“Dosis sola facit venenum.” Paracelsus, 1538

segunda-feira, 28 de março de 2011

"A saúde mental dos portugueses"

Pedro Afonso, conhecido médico psiquiatra escreveu, no jornal Público, há quase um ano (foi publicado a 21 de Junho de 2010), um texto triste, que retrata, com a frieza do realismo, algumas situações de vida de pessoas que diariamente procuram as suas consultas de psiquiatria.

“Recentemente, ficámos a saber, através do primeiro estudo epidemiológico nacional de Saúde Mental, que Portugal é o país da Europa com a maior prevalência de doenças mentais na população. No último ano, um em cada cinco portugueses sofreu de uma doença psiquiátrica (23%) e quase metade (43%) já teve uma destas perturbações durante a vida.

Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque assisto com impotência a uma sociedade perturbada e doente em que a violência, urdida nos jogos e na televisão, faz parte da ração diária das crianças e adolescentes. Neste redil de insanidade, vejo jovens infantilizados incapazes de construírem um projecto de vida, escravos dos seus insaciáveis desejos e adulados por pais que satisfazem todos os seus caprichos, expiando uma culpa muitas vezes imaginária. Na escola, estes jovens adquiriram um estatuto de semideus, pois todos terão de fazer um esforço sobrenatural para lhes imprimirem a vontade de adquirir conhecimentos, ainda que estes não o desejem. É natural que assim seja, dado que a actual sociedade os inebria de direitos, criando-lhes a ilusão absurda de que podem ser mestres de si próprios.

Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque, nos últimos quinze anos, o divórcio quintuplicou, alcançando 60 divórcios por cada 100 casamentos (dados de 2008). As crises conjugais são também um reflexo das crises sociais. Se não houver vínculos estáveis entre seres humanos não existe uma sociedade forte, capaz de criar empresas sólidas e fomentar a prosperidade. Enquanto o legislador se entretém maquinalmente a produzir leis que entronizam o divórcio sem culpa, deparo-me com mulheres compungidas, reféns do estado de alma dos ex-cônjuges para lhes garantirem o pagamento da miserável pensão de alimentos.

Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque se torna cada vez mais difícil, para quem tem filhos, conciliar o trabalho e a família. Nas empresas, os directores insanos consideram que a presença prolongada no trabalho é sinónimo de maior compromisso e produtividade. Portanto é fácil perceber que, para quem perde cerca de três horas nas deslocações diárias entre o trabalho, a escola e a casa, seja difícil ter tempo para os filhos. Recordo o rosto de uma mãe marejado de lágrimas e com o coração dilacerado por andar tão cansada que quase se tornou impossível brincar com o seu filho de três anos.

Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque a taxa de desemprego em Portugal afecta mais de meio milhão de cidadãos. Tenho presenciado muitos casos de homens e mulheres que, humilhados pela falta de trabalho, se sentem rendidos e impotentes perante a maldição da pobreza. Observo as suas mãos, calejadas pelo trabalho manual, tornadas inúteis, segurando um papel encardido da Segurança Social.

Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque é difícil aceitar que alguém sobreviva dignamente com pouco mais de 600 euros por mês, enquanto outros, sem mérito e trabalho, se dedicam impunemente à actividade da pilhagem do erário público. Fito com assombro e complacência os olhos de revolta daqueles que estão cansados de escutar repetidamente que é necessário fazer mais sacrifícios quando já há muito foram dizimados pela praga da miséria.

Finalmente, interessa-me a saúde mental de alguns portugueses com responsabilidades governativas porque se dedicam obsessivamente aos números e às estatísticas esquecendo que a sociedade é feita de pessoas. Entretanto, com a sua displicência e inépcia, construíram um mecanismo oleado que vai inexoravelmente triturando as mentes sãs de um povo, criando condições sociais que favorecem uma decadência neuronal colectiva, multiplicando, deste modo, as doenças mentais.

E hesito em prescrever antidepressivos e ansiolíticos a quem tem o estômago vazio e a cabeça cheia de promessas de uma justiça que se há-de concretizar; e luto contra o demónio do desespero, mas sinto uma inquietação culposa diante destes rostos que me visitam diariamente.”

sexta-feira, 25 de março de 2011

A doença (?) do amor

Ao ler os dois textos anteriores (aqui publicados) que falavam de saúde e de amor lembrei-me disto:
“A cidade está deserta
E alguém escreveu o teu nome em toda a parte:
Nas casas… nos carros… nas pontes… nas ruas…
Em todo o lado essa palavra
Repetida ao expoente da loucura!
Ora amarga! Ora doce!
Para nos lembrar que o amor é uma doença,
Quando nele julgamos ver a nossa cura!”
[Verso de Victor Espadinha, o último, da música” Ouvi dizer”, do grupo “Ornatos Violeta”]

terça-feira, 22 de março de 2011

A Química do Amor

Já todos sentimos o coração bater descompassadamente por aquela pessoa especial e as mãos ficarem molhadas com a emoção. Este tipo de reacção é normal e pode ser explicado pela presença de umas substâncias químicas – neurotransmissores – no nosso organismo.
Este artigo explica como se processa todo este mecanismo do amor.

O que é a Saúde?

Dado que este é um blogue sobre a saúde convém definir este conceito.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS): «Saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não, simplesmente, a ausência de doenças ou enfermidades.»
Esta organização internacional comemora o Dia Mundial da Saúde a 7 de Abril, data que marca a sua fundação. Anualmente, é escolhido um tema-chave da saúde global e organizados eventos internacionais, regionais e locais no dia e durante todo o ano para destacar a área seleccionada.

segunda-feira, 21 de março de 2011

A tuberculose revista

A propósito da tuberculose, doença de que se falou na reunião com os Embaixadores da Saúde efectuada no passado dia um de Março, que abordámos aqui, parece-me importante reforçar o tema publicando parte de uma entrevista (relativamente recente) do bioquímico, António Piedade, ao médico Massano Cardoso, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, realizada em Setembro de 2010 e publicada no blogue “De Rerum Natura”:
António Piedade (AP) - Segundo a OMS, a cada segundo que passa, ou seja, a cada duas palavras desta pergunta, uma nova pessoa no mundo é infectada pela bactéria Mycobacterium Tuberculosis, causadora da tuberculose. Cerca de um terço da população mundial está infectada pelo bacilo. Pode contextualizar a epidemiologia da doença em Portugal? Massano Cardoso (MC) - O decréscimo da prevalência da tuberculose em Portugal é, desde há muitos anos, uma realidade que merece ser destacada. Presentemente, o número de novos casos registados coloca-nos numa posição intermédia com uma taxa de incidência de 24 por 100 mil habitantes. O “desejável” seria baixar para menos de 20 por 100 mil habitantes. Quando se atingem taxas desta natureza, é preciso muito esforço para que se possa observar uma ligeira redução. Sendo assim, no futuro, é de esperar que continuemos a observar melhorias, mas, seguramente, a um ritmo lento. Em termos geográficos existe uma grande variação da incidência da tuberculose, sendo as áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto as mais atingidas. Aparentemente poderá parecer um paradoxo, ou seja, as áreas mais desenvolvidas são precisamente as que apresentam taxas de incidência mais elevadas. A justificação tem a ver com os actuais factores de risco da tuberculose, toxicodependência, infecção VIH/Sida, imigrantes, condições facilitadoras do contágio nos bairros e cinturões dos polos de atracção. Quanto aos grupos de risco, os já enunciados constituem uma preocupação muito séria, a par dos tradicionais, nomeadamente profissionais de saúde. Numa perspectiva epidemiológica, um bom empenhamento e adequada coordenação na luta contra a tuberculose não deixará de continuar a dar resultados positivos. Estamos perante uma velha doença que “sabe” aproveitar todos os condicionalismos sociais, comportamentais e económicos para se manter activa. Portugal reúne muitos desses condicionalismos.
AP - O aumento no número de pessoas infectadas é acompanhado por um aumento de mortes devidas à doença tuberculosa? saúde. Numa perspectiva epidemiológica, um bom empenhamento e adequada coordenação na luta contra a tuberculose não deixará de continuar a dar resultados positivos. Estamos perante uma velha doença que “sabe” aproveitar todos os condicionalismos sociais, comportamentais e económicos para se manter activa. Portugal reúne muitos desses condicionalismos. MC - A relação morbilidade/mortalidade é linear. Quantos mais casos, maior o risco de morte. No caso vertente, apesar da terapêutica e do sucesso da mesma, desde que cumpridas as regras, que, diga-se em abono da verdade, nem sempre são fáceis de cumprir, já que exige adesão durante um período longo, tem-se observado casos mortais. No contexto mundial, a realidade é particularmente confrangedora, chegando nalgumas regiões do globo a ser mesmo obscena, revelando incompetência e falta de cuidados na prevenção e tratamento.
AP - Quais os factores que nos ajudam a explicar este aumento na incidência da infecção pelo bacilo de Koch? Qual o peso, neste aumento, da resistência bacteriana às terapêuticas antibióticas utilizadas? MC - A tuberculose esteve sempre ligada a problemas de fragilidade biológica condicionada pela falta de higiene, má alimentação e superpovoamento, além de outras patologias que se acompanham de diminuição da capacidade imunológica. Nos últimos séculos terá sido a doença que mais influenciou, em termos evolutivos, a espécie humana, ao seleccionar os mais resistentes que, decerto, possuirão características biológicas próprias, as quais poderão ser responsáveis por alguns problemas de saúde típicos da sociedade moderna. De qualquer modo, a par dos factores “clássicos”, que continuam a predominar, mesmo entre nós, a “chegada” de novos comportamentos e de novas doenças contribuíram para a sua propagação. A toxicodependência é um deles, assim como a infecção pelo VIH/Sida. Estamos perante uma doença que pode e deve ser combatida a vários níveis. Talvez o mais importante é a actuação a montante, mas muito a montante, a nível social, cultural, económico e até político de um país. Trata-se de uma doença que preenche perfeitamente os requisitos para mostrar a importância da “Network Science” (Ciência das Redes). Medidas culturais, alimentares, habitacionais, organizacionais e económicas acabam por reduzir de uma forma efectiva muitas doenças, tais como: a sida, a tuberculose ou a toxicodependência que, na periferia da rede, acabam por se entrelaçar de forma muito perigosa. Estamos perante uma doença cuja terapêutica social, numa perspectiva de prevenção, é extraordinariamente eficaz. Quanto se manifesta clinicamente, o recurso aos fármacos é indispensável, podendo, na grande maioria dos casos resolver o problema. No entanto, o número de casos de tuberculose resistentes à terapêutica é uma realidade preocupante, que, aliada à falta de investigação de novos fármacos no seu combate preocupa, e muito, os responsáveis.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Período fértil: ciclo menstrual, ovulação e gravidez

Apesar do assunto ser abordado na disciplina de Biologia (12.º Ano), porque nem todos os alunos a frequentam parece-me importante que se fale aqui do período fértil da mulher, aquele em que é muito provável que uma relação sexual, sem o uso de quaisquer contraceptivos, resulte em gravidez. Até porque um inquérito recente (realizado de 3 a 13 de Setembro de 2010) realizado a 502 mulheres com menos de 45 anos, pela empresa GFK Metris, concluiu que 59% delas não sabe quando está no período fértil.

O período fértil de uma mulher corresponde (em média) a cerca de 4 dias em cada ciclo menstrual. Período ideal para quem tem dificuldades em engravidar não se esquecer de fazer mais algumas tentativas e, para as que não querem engravidar não porem a sorte à prova. Para os menos conhecedores da reprodução humana convém referir que, após o acto sexual, os espermatozóides “sobem” até ao colo do útero, transpõem o canal cervical, passam para o interior do útero e percorrem toda a sua parede até chegarem às trompas de Falópio onde vão encontrar (ou não) um oócito II que um deles fecundará. Isto significa que a gravidez ocorre (apenas) quando um espermatozóide e um oócito II se encontram, ambos “vivos”.

Chamamos ciclo menstrual ao período de tempo que decorre entre o 1.º dia de uma menstruação e o primeiro dia da menstruação seguinte. Este período varia de mulher para mulher e muitas mulheres têm ciclos irregulares, isto é, cada ciclo menstrual pode ter uma duração ligeiramente diferente. Em média, o ciclo menstrual é de 28 dias. O dia da ovulação é aquele em que o oócito II sai de um dos ovários e vai alojar-se na respectiva trompa de Falópio. Habitualmente o 14.º dia anterior ao início do (novo) ciclo menstrual. O dia da ovulação poderá variar entre o 13.º e o 15.º dia antes do (novo) ciclo menstrual (não mais que isso).

Os espermatozóides, normalmente permanecem “vivos” (habitualmente usa-se o termo “viáveis”) durante 48 horas (mas já foram detectados casos de espermatozóides que conseguiram “sobreviver” 5 dias em ambiente idêntico ao que encontram nas trompas de Falópio). Os oócitos permanecem “vivos” (ou “viáveis”, se preferirem), em média, durante 24 horas. (Em casos raros, este tempo pode aumentar para 36 horas.) Excepcionalmente, nalgumas mulheres pode ocorrer uma segunda ovulação, mas nunca mais de 24 horas depois da primeira.

Assim, o período fértil corresponde, em média, ao dia da ovulação, aos dois dias anteriores e ao dia seguinte a esse. Em caso excepcionais, como se expôs acima, o período fértil da mulher pode estar compreendido (no máximo) entre os cinco dias anteriores e os três dias seguintes ao dia da ovulação.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Divulgação (1)

A Coordenação Nacional para a Infecção VIH/sida (CNSIDA), do Ministério da Saúde, em parceria com a Direcção-Geral de Inovação e de Desenvolvimento Curricular (DGIDC), do Ministério da Educação, estão a promover um concurso dirigido aos alunos: do 1.º e 2.º Ciclos do Ensino Básico (categoria A), e aos alunos do 3.º Ciclo do Ensino Básico e do Ensino Secundário (categoria B). O concurso intitula-se “A minha escola e a prevenção da Infecção VIH/sida 2010/2011” e consiste na concepção e realização de projectos/trabalhos que no interior da escola promovam o conhecimento das formas de transmissão do VIH, ao mesmo tempo que sensibiliza os jovens e a comunidade para a importância da adopção de estilos de vida preventivos.

O regulamento do concurso pode ser consultado aqui.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Embaixadores da Saúde (2)

Na passada terça-feira, no auditório da escola, teve lugar o segundo encontro da equipa de saúde escolar com os Embaixadores da Saúde. Os temas abordados, mais em pormenor, foram: a Tuberculose e, a alimentação.

Sobre o primeiro, a Dr.ª Anabela Falcão fez uma breve resenha histórica da doença e apontou alguns preconceitos a ela associados, nomeadamente o facto de durante décadas ter sido considerada uma doença “de pobres e de libertinos”. Destacou o facto de ser uma doença causada por uma bactéria, o bacilo de Koch, podendo (teoricamente) qualquer um de nós, contraí-la.

Em relação à alimentação, destacou a importância de esta ser equilibrada e variada, devendo os alimentos ser ingeridos, preferencialmente, nas proporções apresentadas na roda dos alimentos. Enfatizou a importância do pequeno-almoço que, como primeira refeição do dia, após um longo período sem ingestão de nutrientes, deve ser tomado antes de sairmos de casa e deve ser constituído por cereais, produtos lácteos e frutas.

Destaque-se o facto desta reunião, por comparação com a anterior, ter decorrido com maior interactividade, pois os Embaixadores revelaram-se mais participativos, colocando as suas dúvidas e falando das suas vivências. Esta participação pode, futuramente, ser ainda mais enriquecida, se colocares as tuas dúvidas aos Embaixadores da tua turma, pois estes transmiti-las-ão à equipa de saúde escolar na reunião seguinte.
A próxima reunião com os Embaixadores da Saúde realizar-se-á a 4 de Abril, às 10:05, no auditório.