“Dosis sola facit venenum.” Paracelsus, 1538
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segunda-feira, 16 de agosto de 2021

Qual é a bebida que melhor hidrata?

  

É habitual escutarmos, principalmente entre desportistas de competição, interessantes trocas de argumentos fundamentando as ideias de cada participante na discussão do tema. Por regra, os argumentos são pobres e cada um acaba a querela com a mesma ideia que tinha no seu início, não convencendo nem se deixando convencer. Entre médicos, como é habitual na maioria das matérias científicas, as opiniões divergem bastante e amiúde prevalece o mito urbano mais popular.

Para responder à pergunta do título, não são poucos os que, em vez de recorrerem a argumentos científicos, recorrem a uma justificação linguística – Se hidratar é manter ou aumentar a quantidade de água no organismo, então o melhor é usar água. A água é o melhor hidratante.

Até a Direcção-Geral da Saúde (DGS) há poucos anos alertava para a necessidade de nos hidratarmos nos dias de maior calor (nomeadamente na praia) e recomendava que bebêssemos água e não refrigerantes. O DGS da época, Francisco George, médico de formação, apesar da longa carreira política, chegou mesmo a dizer numa entrevista televisiva que bebidas com açúcar e/ou cafeína aumentavam a desidratação. Alegações deste tipo não constituem novidade, porque no que se refere à saúde, a DGS e os seus dirigentes há muito que se tornaram uma máquina infernal de propagação de mitos. Ponto um – não temos que nos preocupar com a hidratação porque quando estamos desidratados temos cede. Ponto dois – Bebidas, quaisquer que elas sejam, têm a água como principal componente, não podem desidratar, umas podem é hidratar mais que outras, mas todas hidratam. Ponto três – O açúcar, tal como o sal, éhigroscópico retendo água no organismo, evitando, ou no mínimo retardando, a desidratação, e a cafeína, que muitos consideram apresentar propriedades diuréticas, não confirma essa propriedade na maioria das bebidas onde se inclui (apenas o café parece apresentar um ligeiro efeito diurético).

Então a água não é o melhor hidratante?

De facto, estamos desidratados quando temos falta de água. Mas para nos mantermos hidratados precisamos de reter a água no organismo pelo máximo tempo possível. Portanto, bebidas com mais sais minerais que a água e com razoáveis teores de açúcar ou de proteínas, ainda que apresentem quantidades de água inferiores, para o mesmo volume de líquido ingerido, retêm por mais tempo essa água no organismo mantendo-o assim melhor hidratado.

Um estudo publicado em finais de 2015 no “The American Journal of Clinical Nutrition” analisou a capacidade de hidratação de 13 bebidas diferentes e veio confirmar o lógico. Atrás da água ficaram apenas: a cerveja (no 12.º) e o café (no 13.º lugar). Praticamente empatadas, no décimo lugar ficaram: a água e a água com gás. Empatados no oitavo lugar ficaram: o chá quente (servido a 60 ºC) e uma bebida desportiva (concretamente Powerade). Em sétimo lugar ficou o Ice Tea. À sua frente um refrigerante de cola sem açúcar (no caso, Diet Coke). Bem melhor, em termos de hidratação, o quinto lugar foi ocupado por um refrigerante de cola com açúcar (neste caso a Coca-Cola). Com capacidade idêntica, no quarto lugar, classificou-se o sumo de laranja. O segundo lugar foi partilhado por uma “solução oral de rehidratação” (preparação farmacêutica constituída por água açúcar e sais essenciais (sal de cozinha, cloreto de potássio e citrato de sódio) e pelo leite completo (com 3,6% de gordura - na maioria dos supermercados portugueses este leite não é comercializado, sendo o leite gordo, com cerca de 3% de gordura o que mais se aproxima do leite completo ou inteiro). E o melhor hidratante é… o leite magro (0,1% de gordura).

Em resumo, café e bebidas com pouco álcool apresentam uma capacidade de hidratar ligeiramente inferior à da água (quanto maior for o teor de álcool menor é o poder hidratante). Os chás, frios ou quentes, independentemente dos sabores, são quase 100% água, pelo que apresentam praticamente o mesmo potencial hidratante que ela. Sumos e refrigerantes, devido ao alto teor de açúcares totais (normalmente ligeiramente acima dos 100 g/L) são muito bons hidratantes. O leite, devido à sua riqueza em açúcares (cerca de 50 g/L antes de adicionarmos mais) e em proteínas (30 a 40 g/L) é o melhor hidratante.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

O uso intensivo de telemóveis provoca cancro no cérebro?

Dada a (previsível) extensão do texto opto por satisfazer, desde já, a curiosidade dos leitores. A resposta à questão colocada no título é, não!
Um estudo levado a cabo nos Estados Unidos, em 2001 (publicado no New England Journal of Medicine) comparou 782 doentes com cancro cerebral, internados em hospitais dos EUA, com 799 doentes, também internados em hospitais norte-americanos, mas com outras doenças. Concluiu que não havia qualquer relação entre a utilização de telemóveis, durante pelo menos uma hora por dia, e o cancro cerebral. Em 2006 foi publicado (no Journal of the National Cancer Institute) um estudo dinamarquês que seguiu durante 13 anos, um grupo de mais de 420 mil pessoas que usavam telemóveis. Este estudo concluiu que não existe qualquer relação entre o uso de telemóveis e o cancro cerebral, quer em doentes com utilizações intensivas quer ocasionais.
Estes estudos, levados a cabo por especialistas em medicina são, do ponto de vista das ciências mais exactas (a Física e a Química) perfeitamente desnecessários. Conhecimentos adquiridos por alunos do 10.º e 11.º na disciplina de Física e Química A, permitem-lhes saber que as ondas electromagnéticas (vulgo radiação) emitidas pelos telemóveis não conseguem penetrar os ossos do crânio, sendo-lhes portanto impossível causar qualquer espécie de dano a qualquer célula contida no seu interior. Expliquemos (ou relembremos) um pouco mais em pormenor.

A frequência das ondas electromagnéticas emitidas pelos telemóveis varia, conforme as redes, entre os 0,85 GHz (oitocentos e cinquenta milhões de pulsos por segundo) e os 2,1 GHz (dois mil e cem milhões de pulsos por segundo). No espectro electromagnético, estas radiações situam-se entre as ondas de rádio (frequências inferiores a 1 GHz) e as microondas (frequências maiores que 1 GHz e menores que 300 GHz). Quando uma qualquer radiação encontra matéria no seu caminho de propagação, três coisas lhe acontecem, no entanto, conforme a frequência da radiação e a matéria que se opõe, normalmente apenas uma delas tem relevância mensurável: ser reflectida (a radiação embate nas partículas da matéria e não consegue penetrá-la, é o que acontece à luz visível quando se depara com uma parede de betão); transmitir-se (a radiação atravessa a matéria e segue o seu caminho, com um certo desvio na sua direcção, é o que acontece à luz visível quando atravessa um vidro transparente); ser absorvida (a radiação consegue penetrar parcialmente na matéria mas não a atravessa completamente pois é absorvida, é o que acontece à luz visível quando tenta penetrar nas profundezas do oceano, a água vai-a absorvendo aos poucos e se quando mergulhamos junto à superfície vemos o que nos rodeia, alguns metros mais abaixo deparamo-nos com a escuridão total).
As radiações de maior frequência, por serem constituídas por fotões mais energéticos e com menor comprimento de onda têm maior poder penetrante (é exemplo (extremo) disto a radiação gama). As de menor frequência, devido à pouca energia dos seus fotões e ao grande comprimento de onda que apresentam, reflectem-se quase na totalidade (são exemplo disto as ondas de rádio). A frequência das radiações usadas nos telemóveis, nas emissões de rádio e de televisão, ou nas comunicações por GPS, é relativamente baixa (consequentemente, estas radiações possuem um comprimento de onda relativamente grande) apresentando, portanto, muito fraco poder de penetração.
Quando uma radiação é absorvida pela matéria provoca nela um de três efeitos: aquecimento (também conhecido por efeito térmico - a energia absorvida provoca um aumento das vibrações das moléculas das substâncias); ionização (a energia absorvida remove um ou mais electrões de alguns átomos); reacção química (a energia absorvida quebra uma ou mais ligações entre os átomos, nas moléculas. Ora, a frequência mínima que uma radiação deve possuir para provocar a quebra da mais fraca das ligações químicas (intramoleculares) é de 387 GHz. A frequência mínima que uma radiação deve apresentar para arrancar um electrão (o que carece de menor energia) é de 942 GHz. Portanto, radiações com a frequência das usadas em comunicações (relembro que os telemóveis emitem radiação cuja frequência não ultrapassa 2,1 GHz) só podem causar efeito térmico. O funcionamento dos fornos de microondas é baseado neste efeito. Claro que se colocarmos um pedaço de carne dentro de um forno de microondas este vai aquecendo e atingindo uma temperatura de tal forma elevada que ocorrem reacções químicas nela (as reacções químicas também ocorrem por acção do calor) mas, um forno de microondas tem uma potência (normalmente) não inferior a 800 Watt, enquanto a potência de um telemóvel (usada para comunicar) é inferior a 2 Watt (nos de segunda geração e de cerca de 1 Watt nos 3G). É fácil verificarmos que, mesmo após uma conversa de vários minutos, a pele da orelha onde encostámos o telemóvel não sofreu um aquecimento significativo (uma investigação laboratorial refere um aumento inferior a 0,1 ºC, na temperatura exterior da pele após 15 minutos de conversação).
Em jeito de conclusão rápida sublinho que a radiação emitida pelos telemóveis ou pelos receptores de GPS não só não provoca cancro cerebral (para atravessar os ossos do crânio são necessárias radiações X, de muito alta frequência ou radiações gama) como não provoca sequer qualquer dano à pele, pois não dispõe de energia suficiente para provocar qualquer reacção química, menos ainda qualquer efeito ionizante. Acrescento, a propósito, que os alimentos cozinhados ou aquecidos em fornos de microondas, que usam radiação com a frequência de 2,45 GHz (pelas mesmas razões) não representam qualquer risco para a saúde.
Referências: Os estudos que menciono (no 2.º e 3.º parágrafo do texto) são citados no n.º 2 de “O Quebra Mitos”, boletim de notícias da ARSLVT, da autoria do Professor Doutor António Vaz Carneiro e num Artigo da Harvard Medical School.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Qual é a quantidade de água que devemos beber diariamente?

A resposta a esta pergunta pode parecer complexa, na verdade não o é. Mais de 60% da nossa massa corporal é água, tendo esta uma enorme importância para nós, aliás, tal como acontece com os demais seres vivos. Um estudo dos anos 30 (do século passado, obviamente) sugeria que o ser humano deve ingerir um mililitro de água por cada quilocaloria de energia contida nos alimentos que consome. Acontece que, o número de quilocalorias ingeridos diariamente varia muito de pessoa para pessoa e para a mesma, varia de dia para dia, além disso, o nosso organismo perde água (por ordem decrescente de quantidade) na urina, na respiração, na transpiração e nas fezes. A quantidade de cada uma destas perdas é também muito variável, consoante os alimentos ingeridos, o tipo e intensidade das nossas actividades, a temperatura e humidade do ar em nosso redor, etc.

Numa consulta rápida na Internet em busca de resposta para esta pergunta, conforme os sítios (e eliminando as respostas mais excêntricas), obtemos respostas que vão desde a necessidade de ingerimos cerca de 1,5 litros de água por dia até aos 3 litros. Algumas páginas recomendam-nos que tenhamos em conta a totalidade de água contida nos alimentos, mas esta não se apresenta uma tarefa fácil, pois a quantidade de água presente nos alimentos é muito variável, quando comparada com a massa destes; desde quase zero, numa margarina ou óleo vegetal até aos mais de 96% no pepino, 95% na alface, 94% no tomate e no agrião, passando pelos 87% nos citrinos e nos pêssegos, pelos cerca de 50% na carne de vaca, ou pelos 12% nas farinhas ou no arroz (crú).

Parece que a obtenção da resposta correcta à questão colocada no título nos vai envolver em cálculos complexos, afectados por significativa incerteza, no entanto, como escrevi logo na primeira linha deste texto, a resposta não é complexa. Quer na Internet, quer através de familiares e amigos, que por vezes citam os seus médicos, é habitual ouvirmos dizer que devemos ingerir, além da água contida nos alimentos, pelo menos mais dois litros diários, mas a resposta correcta à questão não é assim tão exacta. A ideia de que precisamos de beber pelo menos dois litros de água por dia é apenas mais um dos muitos mitos que circulam.

A água é uma das substâncias que são estritamente reguladas pelo nosso organismo e o seu metabolismo é simples, o organismo só aproveita aquela de que necessitamos. A quantidade de água no organismo é regulada por hormonas que garantem a manutenção de uma determinada densidade do sangue normal. Quando desidratamos esta densidade aumenta e o organismo perde temporariamente menos água, somos então, “de imediato”, acometidos pela sensação de sede, sendo este um alerta para a necessidade de ingerirmos líquidos nos minutos seguintes. Quando estamos bem hidratados não temos sede, o que significa que o organismo não necessita que ingeramos mais líquidos. Se o fizermos, urinamos mais, pois são os rins que controlam a quantidade de água que deve existir no organismo, através do aumento ou diminuição do volume de urina, e se estiverem a funcionar normalmente dispensam qualquer ajuda externa.

Forçar a ingestão de líquidos quando deles não necessitamos é, no mínimo, inútil e em certos casos perigoso, pois a partir de certo volume de água ingerida, os rins podem ter dificuldades em eliminar a supérflua, diminuindo a osmolalidade (número de moles de soluto por quilograma de solvente transferido por osmose) do sangue, ou mais correctamente, do plasma, o que pode ter consequências bastante graves (convém não esquecer que, tal como já escrevi aqui, o veneno não está na substância mas sim na dose e, mesmo substâncias aparentemente inócuas, como a água, quando ingeridas em quantidade excessivas são prejudiciais à saúde), devido à diminuição da concentração de certos sais.

Que quantidade de água se deve beber, então? A resposta é muito simples: devemos beber toda a água (ou outra bebida sem álcool) que nos apetecer, sempre que tivermos sede, até que esse “problema” esteja resolvido, nem mais, nem menos.

Referência: Artigo da Harvard Medical School.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

O café faz mal à saúde?

O café é uma bebida que se obtém fazendo passar água quente por sementes secas, torradas e moídas (processo que em Química se designa por “separação por solvente” ou “extracção”), a maioria das quais, de uma planta que se pensa ser originária da Abissínia e que foi posteriormente cultivada em todas as regiões tropicais, denominada cafeeiro. Trata-se de um arbusto de folhas persistentes que produz uns pequenos frutos carnudos, de cor roxa, púrpura ou amarela (conforme as espécies), contendo cada um deles duas sementes, envoltas (cada uma delas) numa casca semi-rígida, transparente, que protege o grão (verde) de café.
A bebida começou a ser consumida no mundo Árabe, por volta no século XII, tendo-se popularizado no Egipto e na Pérsia já em meados do século XV. Logo no início do Século XVI foi proibida em alguns países (por alegadamente ser prejudicial à saúde) tendo tal proibição levado a algumas revoltas populares. Foi nessa época que, primeiro, os Italianos e depois os portugueses, os espanhóis e os holandeses, a difundiram pela Europa e pelo mundo. Hoje, partilha com o chá, o título de bebida mais disseminada no mundo.
Actualmente o Brasil produz mais de um terço dos quase oito milhões de toneladas de café que se consomem no mundo. Os países nórdicos são os maiores consumidores per capita, sendo a Finlândia o maior consumidor mundial com cerca de 12 kg por ano, por pessoa, seguem-se: a Noruega, com 10 kg; a Islândia e a Dinamarca, com 9 kg. Apesar de o café se poder beber gelado (ou simplesmente frio, tal como o chá), os países mais quentes são mais modestos no consumo, por exemplo, cada brasileiro consome cerca de 5,5 kg de café por ano, e cada português cerca de 3,9 kg.
O café é uma mistura complexa de mais de mil substâncias químicas diferentes (nas quais se incluem: hidratos de carbono, proteínas, lípidos, sais minerais, vitaminas, outros compostos nitrogenados (além das proteínas), ácidos clorogénicos, alcalóides e polifenóis), com as mais variadas propriedades e todas (com excepção da água, que representa 99,4% da bebida) em quantidades muito pequenas. A mais abundante dessas substâncias é a cafeína. Uma chávena de café (conforme a dimensão da mesma, o tipo de café e o modo de preparação) contém entre 60 e 150 mg de cafeína, sendo habitualmente considerado o valor médio de 100 mg por cada “bica”.
A ideia de que o café é prejudicial à saúde é um dos mitos mais difundidos na nossa sociedade (mesmo entre a classe médica). De facto, durante várias décadas, o balanço entre os malefícios e os benefícios (principalmente) da cafeína foram alvo de disputa na comunidade científica. Hoje, sabemos (tal como já tinha referido Paracelsus há quase quinhentos anos) que o “veneno não está na substância, está na dose”, isto é, qualquer substância pode ser benéfica ou maléfica consoante a quantidade (e a frequência com que) ingerimos. Múltiplos estudos, dos quais resultaram mais de 30 mil publicações em revistas científicas, permitem-nos concluir que o consumo de 3 a 6 chávenas de café por dia é benéfico na prevenção: da Diabetes (principalmente a de tipo 2); da doença de Parkinson; da doença de Alzheimer; e de doenças do fígado, como o carcinoma hepatocelular (vulgo cancro do fígado), a cirrose alcoólica e a fibrose. Associados ao consumo do café, dada a sua acção estimulante do Sistema Nervoso Central, estão também: o aumento da atenção, da concentração e da rapidez de reflexos, e a redução da tendência depressiva causada pelo consumo de opiáceos, nicotina ou álcool. São também reconhecidos os efeitos redutores da fadiga muscular, do café.
Como possíveis "malefícios" associados ao café, mais concretamente ao consumo de doses diárias elevadas de cafeína [substância que se encontra em muitos alimentos, principalmente: no café, nalguns chás (nomeadamente o preto, o branco e o verde), no cacau, no guaraná, na Coca-Cola (e similares) e na maioria das “bebidas energéticas”] está a dependência desta, que se pode manifestar, na sua ausência, por sonolência, dificuldade de concentração e dores de cabeça. Em pessoas não habituadas ao consumo de cafeína, a sua ingestão pode provocar, ou aumentar, a intensidade e/ou a frequência de arritmias, bem como uma elevação da pressão arterial (vulgo “tensão”), sintomas que desaparecem ao fim de alguns dias de toma. É totalmente contra-indicado o consumo de café e de outras bebidas fortemente ácidas a doentes com úlceras de estômago. É aconselhada a redução ou suspensão do consumo de café durante a gravidez e o aleitamento pois doses de cafeína relativamente baixas (e portanto benéficas) para o adulto podem ser bastante altas (e portanto prejudiciais) para os bebés. Também nas crianças, o consumo de cafeína deve ser muito comedido.
Não há qualquer estudo científico credível que aponte o café como causa ou agravamento de qualquer patologia cardiovascular.
Em jeito de conclusão, podemos dizer que, pesando os prós e os contras, o café (bebido com moderação), contrariamente ao que muita gente pensa, é uma bebida recomendável à generalidade da população adulta.
Referências: N.º 0 de “O Quebra Mitos”, boletim de notícias da ARSLVT, da autoria do Professor Doutor António Vaz Carneiro, Director do Centro de Estudos de Medicina Baseada na Evidência, da FMUL; Entrevista do Farmacêutico e Professor Universitário, Mestre António Hipólito de Aguiar, ao boletim “Café e Saúde”; Entrevista do Professor Doutor João Gorjão Clara, Chefe de Serviço de Medicina Interna e Consultor de Cardiologia do Hospital Polido Valente; Artigo da Harvard Medical School.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

A laranja de manhã é ouro, à tarde é prata e à noite mata

Este é um dos ditados populares mais ouvidos em Portugal, sobretudo nas regiões do interior do país. É, no entanto, como muitos outros ditos populares, um mito. Como facilmente se percebe, a frase relaciona hipotéticos benefícios ou riscos da ingestão das laranjas com o momento do dia em isso ocorre. Diz-nos que comer laranjas pela manhã é mais benéfico (ouro) e que esse benefício vai diminuindo ao longo do dia (à tarde, prata) tornando-se um alimento perigoso se ingerido depois do pôr-do-sol (à noite mata). A origem da frase é desconhecida, sabendo-se, contudo, que já era popular no século XIX, tendo, nos últimos anos ganho grande difusão com o advento da Internet (a frase (do título) apresenta mais de 7 mil ocorrências no Google). Não existe, no entanto, qualquer estudo científico que confirme esta hipótese. As laranjas são ricas em vitaminas (principalmente a C), em pectinas e em açúcares, devendo fazer parte de uma alimentação equilibrada, rica em frutas e vegetais. Além de prevenirem contra doenças causadas por falta de vitamina C (como o escorbuto, ou a perda de consistência dos vasos sanguíneos), contribuem (tal como outros citrinos) para a diminuição da “pedra” nos rins (doença designada por nefrolitíase). Em conclusão, podemos e devemos consumir laranjas (e outras frutas, preferencialmente alaranjadas, rosadas ou vermelhas) regularmente, independentemente da refeição (e hora do dia) a que isso ocorra. E já que falamos de mitos e de vitamina C, aproveito para informar que não há estudos científicos credíveis que provem que a ingestão de vitamina C possa contribuir para a cura ou para a prevenção tanto de gripes como de constipações. Este é também um mito bastante difundido.

Referência: N.º 1 de “O Quebra Mitos”, boletim de notícias da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo I. P., cujo autor é o Professor Doutor António Vaz Carneiro