“Dosis sola facit venenum.” Paracelsus, 1538

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Dormir pouco prejudica a saúde?

Estudos recentes permitem afirmar que mais de 50 por cento dos estudantes dormem menos horas, por noite, que o necessário, o que tem um impacto negativo no sucesso escolar. Quem o afirma é a médica neurologista, Teresa Paiva, em entrevista ao jornal Público (14-08-2011).
Especialmente em época de férias é comum encontrarmos jovens que adoptam uma rotina de sono trocada em relação ao dia e à noite. Saem e divertem-se até de madrugada, deitam-se de manhã, dormem até meio da tarde e acordam já de noite para voltarem a deitar-se de madrugada. Mesmo em tempo de aulas, embora reduzam este ritmo, a tendência, para grande número de crianças e jovens portugueses, é para deitar tarde e levantar cedo e, portanto, dormir pouco. Tal prática pode ser muito prejudicial, alerta a médica. As crianças que dormem menos do que precisam têm um risco aumentado de hipertensão arterial, de diabetes, de insucesso escolar, de depressão e de insónia, explica, alertando para a gravidade da situação, dado tratar-se de “doenças crónicas que passam a constituir problemas para toda a vida”. Dormir menos do que se precisa “afecta a aquisição de conhecimentos, com enfase no raciocínio abstracto” e traduz-se em insucesso escolar, sobretudo em disciplinas como a Físico-Química e a Matemática, cujas classificações (nacionais) são tradicionalmente as mais baixas. Mesmo que os jovens que trocam o dia pela noite consigam dormir, o número de horas necessário, durante o dia, esse sono "não tem qualidade", afirma a neurologista. Estes adolescentes (e jovens adultos) dormem fora da fase biológica do sono, potenciando tendências para a depressão e para a obesidade, aumentando o risco de desenvolvimento de cancros (em idades mais avançadas). Está cientificamente provada a importância da luz natural na saúde, nota Teresa Paiva. Explicando o benefício de dormir de noite, lembra que “as primeiras células que existiram aprenderam a multiplicar-se de noite e não de dia”. “As hormonas que facilitam a divisão celular são, muitas delas, produzidas exclusivamente quando estamos a dormir “. É de noite que “ocorre o maior número de interacções entre os neurónios nas várias fases do sono". Não somos nem ratos nem morcegos, somos uma espécie evoluída que não foi feita para dormir (significativamente) durante o dia, nota a neurologista, referindo que “temos relógios biológicos que estabelecem tarefas diferentes para o organismo, conforme se trate da noite ou do dia”. É importante termos em conta que uma criança de dez anos deve dormir dez horas por noite (tanto mais quanto menor for a sua idade) e um adolescente e um jovem adulto devem dormir, em média, nove horas em cada 24. A médica alerta para o facto de, em Portugal, se trabalhar imensas horas (por vezes mais de 50), sendo que, pelo facto de os pais passarem tanto tempo fora de casa (e também devido aos longos horários escolares) as crianças e jovens passam demasiado tempo na escola, e para terem tempo para outras actividades (actividades extracurriculares, convívio com os amigos, brincadeira, etc.) “roubam” horas ao sono. Como consequência disto, a saúde mental da nossa população deteriora-se, logo desde a infância e adolescência. Chegada a idade adulta aumentam as doenças psiquiátricas e o consumo de tranquilizantes. O número de suicídios atinge (no nosso país) valores preocupantes (aproximando-se dos valores dos países de elevadas latitudes, como os nórdicos, que passam parte significativa do ano com poucas horas de luz e sofrem de depressões daí derivadas).
Conclui a médica que, as pessoas devem perceber que quanto mais horas trabalharem mais horas têm de dormir e mais horas devem praticar exercício físico, igualmente, mais equilibrada deve ser a alimentação.
Em resumo, trabalhar e estudar muito e dormir sistematicamente pouco e/ou a horas biologicamente inapropriadas pode a médio prazo ter consequências graves tanto ao nível da saúde física como mental.

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