Nos últimos anos têm aparecido em jornais de grande circulação, assim como em revistas “médicas”, anúncios a convidarem as pessoas para fazerem voluntariamente uma Tomografia Axial Computorizada (TAC) de corpo inteiro como medida de rastreio do cancro.
De facto, o diagnóstico precoce ajuda à cura ou, quando esta não é possível, à minimização dos efeitos de doenças complexas, como os cancros. No entanto, este tipo de exame não é inócuo e não deve ser efectuado sem conselho médico, dados os riscos (não despicientes) que comporta para o paciente.
Vejamos: quando se faz um teste para detectar uma doença, não existindo sintomas (doença assintomática), ou existindo pequenos sintomas que não permitem ter uma ideia clara da possível doença, podem acontecer quatro situações: o teste é “positivo” e o doente tem a doença (chama-se a isto um verdadeiro positivo); o teste é “positivo” mas o doente não está efectivamente doente (falso positivo); o teste é “negativo” (ou normal) mas o paciente está efectivamente doente (falso negativo); finalmente, o teste é “negativo” e a pessoa não está doente (verdadeiro negativo).
Ora, sobretudo na segunda situação, de falso positivo, de longe a situação mais frequente dos “falsos”, e infelizmente não tão rara como seria desejável, origina pedidos de novos testes, aumentando as preocupações, ansiedades e angústias dos doentes, causando muitas vezes problemas psíquicos, e gastando desnecessariamente recursos económicos escassos.
No caso concreto do rastreio por TAC de corpo inteiro em indivíduos assintomáticos, a exposição a doses relativamente elevadas de radiação ionizante, entre 500 a 1000 vezes maiores que a de uma vulgar radiografia (raio X) ao tórax, acrescida das doses (possíveis) associadas a novos testes é factor de risco acrescido de doença, sendo muitas vezes desnecessária e por isso desaconselhada.
Em conclusão, são de evitar exames de rotina complexos, normalmente bastante caros, como a TAC de corpo inteiro, em doentes sem quaisquer sintomas ou com sintomas comuns a muitas doenças banais, sem prévio aconselhamento e prescrição pelo médico.
Referência: Artigo da Harvard Medical School
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