“Dosis sola facit venenum.” Paracelsus, 1538
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segunda-feira, 5 de julho de 2021

Não façam isto!

 

O JN noticiava ontem que, em Inglaterra, vários alunos usaram sumo de laranja para gerar falsos positivos em “testes rápidos” de detecção da infecção respiratória CoViD-19. O problema não é apenas dos “testes rápidos”, estende-se a todos os testes usados para detectar o SARSCoV2. Surgiu em testes rápidos porque são feitos por cada um de nós, enquanto que nos testes PCR a amostra é recolhida por outra pessoa.

Os testes procuram RNA e como sabem, todos os seres vivos (animais e plantas) o possuem, e os vírus também. Em meio extremamente ácido é mais fácil detectar este RNA, por isso, o sumo de laranja (limão, ananás, etc.) ou a Coca-Cola testam positivo para CoViD-19 tanto em testes rápidos como em PCR (basta fazermos o teste com o interior do nariz humedecido com uma das bebidas). Logo nos primeiros meses da pandemia surgiram na Tanzânia os primeiros “problemas” com uma cabra e um pawpaw (uma papaia local) a testarem PCR positivo para CoViD-19 tendo à época ficado a ideia que seria um problema exclusivo de um lote de testes. Na realidade acontece com todos os testes PCR e com todos os “testes rápidos”, desde que se trate de bebidas bastante ácidas, de origem biológica.

É tentador ficar duas semanas em casa depois de um teste positivo à CoVid-19, para mais, sem sintomas. Mas a continuação da proliferação de positivos (na sua maioria falsos) vai continuar a alimentar o pânico entre a maioria da população e poderá levar as autoridades a decidirem-se por mais medidas patéticas de contenção (com elevados prejuízos para a economia e para a saúde mental dos mais frágeis) ou mesmo por sucessivas doses de reforço da vacina (que já se insinuam) cujos efeitos secundários a longo prazo se desconhecem. Por isso, façam o favor de não copiarem, no próximo ano lectivo, a brincadeira parva dos colegas ingleses.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Dormir pouco prejudica a saúde?

Estudos recentes permitem afirmar que mais de 50 por cento dos estudantes dormem menos horas, por noite, que o necessário, o que tem um impacto negativo no sucesso escolar. Quem o afirma é a médica neurologista, Teresa Paiva, em entrevista ao jornal Público (14-08-2011).
Especialmente em época de férias é comum encontrarmos jovens que adoptam uma rotina de sono trocada em relação ao dia e à noite. Saem e divertem-se até de madrugada, deitam-se de manhã, dormem até meio da tarde e acordam já de noite para voltarem a deitar-se de madrugada. Mesmo em tempo de aulas, embora reduzam este ritmo, a tendência, para grande número de crianças e jovens portugueses, é para deitar tarde e levantar cedo e, portanto, dormir pouco. Tal prática pode ser muito prejudicial, alerta a médica. As crianças que dormem menos do que precisam têm um risco aumentado de hipertensão arterial, de diabetes, de insucesso escolar, de depressão e de insónia, explica, alertando para a gravidade da situação, dado tratar-se de “doenças crónicas que passam a constituir problemas para toda a vida”. Dormir menos do que se precisa “afecta a aquisição de conhecimentos, com enfase no raciocínio abstracto” e traduz-se em insucesso escolar, sobretudo em disciplinas como a Físico-Química e a Matemática, cujas classificações (nacionais) são tradicionalmente as mais baixas. Mesmo que os jovens que trocam o dia pela noite consigam dormir, o número de horas necessário, durante o dia, esse sono "não tem qualidade", afirma a neurologista. Estes adolescentes (e jovens adultos) dormem fora da fase biológica do sono, potenciando tendências para a depressão e para a obesidade, aumentando o risco de desenvolvimento de cancros (em idades mais avançadas). Está cientificamente provada a importância da luz natural na saúde, nota Teresa Paiva. Explicando o benefício de dormir de noite, lembra que “as primeiras células que existiram aprenderam a multiplicar-se de noite e não de dia”. “As hormonas que facilitam a divisão celular são, muitas delas, produzidas exclusivamente quando estamos a dormir “. É de noite que “ocorre o maior número de interacções entre os neurónios nas várias fases do sono". Não somos nem ratos nem morcegos, somos uma espécie evoluída que não foi feita para dormir (significativamente) durante o dia, nota a neurologista, referindo que “temos relógios biológicos que estabelecem tarefas diferentes para o organismo, conforme se trate da noite ou do dia”. É importante termos em conta que uma criança de dez anos deve dormir dez horas por noite (tanto mais quanto menor for a sua idade) e um adolescente e um jovem adulto devem dormir, em média, nove horas em cada 24. A médica alerta para o facto de, em Portugal, se trabalhar imensas horas (por vezes mais de 50), sendo que, pelo facto de os pais passarem tanto tempo fora de casa (e também devido aos longos horários escolares) as crianças e jovens passam demasiado tempo na escola, e para terem tempo para outras actividades (actividades extracurriculares, convívio com os amigos, brincadeira, etc.) “roubam” horas ao sono. Como consequência disto, a saúde mental da nossa população deteriora-se, logo desde a infância e adolescência. Chegada a idade adulta aumentam as doenças psiquiátricas e o consumo de tranquilizantes. O número de suicídios atinge (no nosso país) valores preocupantes (aproximando-se dos valores dos países de elevadas latitudes, como os nórdicos, que passam parte significativa do ano com poucas horas de luz e sofrem de depressões daí derivadas).
Conclui a médica que, as pessoas devem perceber que quanto mais horas trabalharem mais horas têm de dormir e mais horas devem praticar exercício físico, igualmente, mais equilibrada deve ser a alimentação.
Em resumo, trabalhar e estudar muito e dormir sistematicamente pouco e/ou a horas biologicamente inapropriadas pode a médio prazo ter consequências graves tanto ao nível da saúde física como mental.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

A sexualidade

Ainda que existam na natureza, nalgumas espécies, casos de reprodução assexuada (extremamente raros nos animais, um pouco mais vulgares nas plantas), a generalidade das espécies, desde os insectos aos animais, desenvolveu um instinto sexual extremamente forte, que envolve comportamentos que “consomem” tempo e enormes quantidades de energia. Tal instinto, só parece justificar-se por permitir o fundamento da vida – a continuação da espécie.

Em seres biologicamente inferiores, como os insectos, os peixes ou os répteis, o instinto sexual resume-se ao acto, em si. Mas à medida que percorremos as espécies, rumo às superiores, observamos um instinto sexual mais abrangente, que se vai iniciando muito antes e não se esgota na prática pura e simples do acto sexual, com a criação de relações/laços cada vez mais fortes entre os parceiros sexuais. O Homem, enquanto espécie superior (dispõe do mais evoluído sistema nervoso, o que faz dele o mais capaz de se adaptar a um determinado meio e simultaneamente, o mais capaz de alterar esse meio de acordo com as suas necessidades), não podia deixar de deter o mais complexo instinto sexual, estabelecendo as mais fortes relações afectivas com o seu parceiro.

E para que servem estes laços? Nas espécies inferiores, além de o instinto sexual se resumir à prática do acto, como referi acima, também os cuidados com os filhos (regra geral) cessam no momento do nascimento destes (tendo eles que se desenrascarem por si próprios desde o primeiro momento pós-natal), mas nas espécies superiores, pelo menos um dos progenitores (normalmente a fêmea) cuida e protege os filhotes durante os primeiros tempos de vida. Nas espécies de topo, ambos os progenitores reservam para si o direito de cuidar dos filhos, estendendo-o (regra geral) tanto mais no tempo, quanto mais evoluída é a espécie, pois as crias carecem de cuidados mais complexos. Estes laços, criados através de um evoluído instinto sexual, servem, portanto, para uma escolha criteriosa do parceiro e para fortalecerem a relação que, do ponto de vista da evolução da espécie, se deseja o mais duradoura possível.

Nas últimas décadas, por um lado devido a alguns métodos de contracepção e por outro devido às técnicas de reprodução assistida, sexo e reprodução aparecem, nos humanos (mas não só), um pouco mais dissociados. No entanto, um instinto sexual evoluído, isto é, que não se esgota (nem perto disso) na prática exclusiva do sexo, é indissociável da nossa condição humana e permanecerá connosco enquanto existirmos como a mais superior das espécies.

É ao conjunto de atitudes, comportamentos, impulsos, reacções, cumplicidades, que constituem o todo do instinto sexual humano e que se prolonga por toda a nossa vida, que chamamos sexualidade.

Esta sexualidade surge, por vezes, de forma incompleta: nalgumas, sobretudo na adolescência, sem a componente do impulso fisiológico (o chamado “amor platónico”); noutras, apenas com essa componente fisiológica, que conduz, dependendo dos indivíduos, à masturbação, ao sexo com um parceiro casual ou ao sexo pago (a primeira preferível às restantes, pois não envolve rico de contrair doenças sexualmente transmissíveis). Mas, dada a complexidade da nossa espécie, este “sexo pelo sexo” não é, na generalidade dos casos, sobretudo quando nos tornamos adultos, completamente satisfatório em termos psico-afectivos, nem perto disso, pelo que, a vivência de uma sexualidade plena implica o estabelecer de fortes relações afectivas com um parceiro sexual que connosco partilhe bem mais que alguns momentos de simples acto sexual.

Em resumo, a sexualidade humana apresenta duas funções: por um lado, o instinto básico que permite a reprodução; por outro, a criação de laços fortes e duradouros, entre os dois parceiros sexuais, susceptíveis de permitirem a partilha mútua da vida e de possibilitarem a protecção e a transmissão de valores, aos filhos, por parte de ambos os progenitores.

Referências: “Encenações e comportamentos sexuais: Para uma psicologia social da sexualidade” de Valentim Rodrigues Alferes; “Relações Afectivas e Saúde Mental” de Maria Cristina Sousa Canavarro; “Human Development” de Diane E. Papalia, Sally W. Olds e Ruth D. Feldman.

segunda-feira, 28 de março de 2011

"A saúde mental dos portugueses"

Pedro Afonso, conhecido médico psiquiatra escreveu, no jornal Público, há quase um ano (foi publicado a 21 de Junho de 2010), um texto triste, que retrata, com a frieza do realismo, algumas situações de vida de pessoas que diariamente procuram as suas consultas de psiquiatria.

“Recentemente, ficámos a saber, através do primeiro estudo epidemiológico nacional de Saúde Mental, que Portugal é o país da Europa com a maior prevalência de doenças mentais na população. No último ano, um em cada cinco portugueses sofreu de uma doença psiquiátrica (23%) e quase metade (43%) já teve uma destas perturbações durante a vida.

Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque assisto com impotência a uma sociedade perturbada e doente em que a violência, urdida nos jogos e na televisão, faz parte da ração diária das crianças e adolescentes. Neste redil de insanidade, vejo jovens infantilizados incapazes de construírem um projecto de vida, escravos dos seus insaciáveis desejos e adulados por pais que satisfazem todos os seus caprichos, expiando uma culpa muitas vezes imaginária. Na escola, estes jovens adquiriram um estatuto de semideus, pois todos terão de fazer um esforço sobrenatural para lhes imprimirem a vontade de adquirir conhecimentos, ainda que estes não o desejem. É natural que assim seja, dado que a actual sociedade os inebria de direitos, criando-lhes a ilusão absurda de que podem ser mestres de si próprios.

Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque, nos últimos quinze anos, o divórcio quintuplicou, alcançando 60 divórcios por cada 100 casamentos (dados de 2008). As crises conjugais são também um reflexo das crises sociais. Se não houver vínculos estáveis entre seres humanos não existe uma sociedade forte, capaz de criar empresas sólidas e fomentar a prosperidade. Enquanto o legislador se entretém maquinalmente a produzir leis que entronizam o divórcio sem culpa, deparo-me com mulheres compungidas, reféns do estado de alma dos ex-cônjuges para lhes garantirem o pagamento da miserável pensão de alimentos.

Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque se torna cada vez mais difícil, para quem tem filhos, conciliar o trabalho e a família. Nas empresas, os directores insanos consideram que a presença prolongada no trabalho é sinónimo de maior compromisso e produtividade. Portanto é fácil perceber que, para quem perde cerca de três horas nas deslocações diárias entre o trabalho, a escola e a casa, seja difícil ter tempo para os filhos. Recordo o rosto de uma mãe marejado de lágrimas e com o coração dilacerado por andar tão cansada que quase se tornou impossível brincar com o seu filho de três anos.

Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque a taxa de desemprego em Portugal afecta mais de meio milhão de cidadãos. Tenho presenciado muitos casos de homens e mulheres que, humilhados pela falta de trabalho, se sentem rendidos e impotentes perante a maldição da pobreza. Observo as suas mãos, calejadas pelo trabalho manual, tornadas inúteis, segurando um papel encardido da Segurança Social.

Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque é difícil aceitar que alguém sobreviva dignamente com pouco mais de 600 euros por mês, enquanto outros, sem mérito e trabalho, se dedicam impunemente à actividade da pilhagem do erário público. Fito com assombro e complacência os olhos de revolta daqueles que estão cansados de escutar repetidamente que é necessário fazer mais sacrifícios quando já há muito foram dizimados pela praga da miséria.

Finalmente, interessa-me a saúde mental de alguns portugueses com responsabilidades governativas porque se dedicam obsessivamente aos números e às estatísticas esquecendo que a sociedade é feita de pessoas. Entretanto, com a sua displicência e inépcia, construíram um mecanismo oleado que vai inexoravelmente triturando as mentes sãs de um povo, criando condições sociais que favorecem uma decadência neuronal colectiva, multiplicando, deste modo, as doenças mentais.

E hesito em prescrever antidepressivos e ansiolíticos a quem tem o estômago vazio e a cabeça cheia de promessas de uma justiça que se há-de concretizar; e luto contra o demónio do desespero, mas sinto uma inquietação culposa diante destes rostos que me visitam diariamente.”