“Dosis sola facit venenum.” Paracelsus, 1538
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segunda-feira, 9 de maio de 2011

O café faz mal à saúde?

O café é uma bebida que se obtém fazendo passar água quente por sementes secas, torradas e moídas (processo que em Química se designa por “separação por solvente” ou “extracção”), a maioria das quais, de uma planta que se pensa ser originária da Abissínia e que foi posteriormente cultivada em todas as regiões tropicais, denominada cafeeiro. Trata-se de um arbusto de folhas persistentes que produz uns pequenos frutos carnudos, de cor roxa, púrpura ou amarela (conforme as espécies), contendo cada um deles duas sementes, envoltas (cada uma delas) numa casca semi-rígida, transparente, que protege o grão (verde) de café.
A bebida começou a ser consumida no mundo Árabe, por volta no século XII, tendo-se popularizado no Egipto e na Pérsia já em meados do século XV. Logo no início do Século XVI foi proibida em alguns países (por alegadamente ser prejudicial à saúde) tendo tal proibição levado a algumas revoltas populares. Foi nessa época que, primeiro, os Italianos e depois os portugueses, os espanhóis e os holandeses, a difundiram pela Europa e pelo mundo. Hoje, partilha com o chá, o título de bebida mais disseminada no mundo.
Actualmente o Brasil produz mais de um terço dos quase oito milhões de toneladas de café que se consomem no mundo. Os países nórdicos são os maiores consumidores per capita, sendo a Finlândia o maior consumidor mundial com cerca de 12 kg por ano, por pessoa, seguem-se: a Noruega, com 10 kg; a Islândia e a Dinamarca, com 9 kg. Apesar de o café se poder beber gelado (ou simplesmente frio, tal como o chá), os países mais quentes são mais modestos no consumo, por exemplo, cada brasileiro consome cerca de 5,5 kg de café por ano, e cada português cerca de 3,9 kg.
O café é uma mistura complexa de mais de mil substâncias químicas diferentes (nas quais se incluem: hidratos de carbono, proteínas, lípidos, sais minerais, vitaminas, outros compostos nitrogenados (além das proteínas), ácidos clorogénicos, alcalóides e polifenóis), com as mais variadas propriedades e todas (com excepção da água, que representa 99,4% da bebida) em quantidades muito pequenas. A mais abundante dessas substâncias é a cafeína. Uma chávena de café (conforme a dimensão da mesma, o tipo de café e o modo de preparação) contém entre 60 e 150 mg de cafeína, sendo habitualmente considerado o valor médio de 100 mg por cada “bica”.
A ideia de que o café é prejudicial à saúde é um dos mitos mais difundidos na nossa sociedade (mesmo entre a classe médica). De facto, durante várias décadas, o balanço entre os malefícios e os benefícios (principalmente) da cafeína foram alvo de disputa na comunidade científica. Hoje, sabemos (tal como já tinha referido Paracelsus há quase quinhentos anos) que o “veneno não está na substância, está na dose”, isto é, qualquer substância pode ser benéfica ou maléfica consoante a quantidade (e a frequência com que) ingerimos. Múltiplos estudos, dos quais resultaram mais de 30 mil publicações em revistas científicas, permitem-nos concluir que o consumo de 3 a 6 chávenas de café por dia é benéfico na prevenção: da Diabetes (principalmente a de tipo 2); da doença de Parkinson; da doença de Alzheimer; e de doenças do fígado, como o carcinoma hepatocelular (vulgo cancro do fígado), a cirrose alcoólica e a fibrose. Associados ao consumo do café, dada a sua acção estimulante do Sistema Nervoso Central, estão também: o aumento da atenção, da concentração e da rapidez de reflexos, e a redução da tendência depressiva causada pelo consumo de opiáceos, nicotina ou álcool. São também reconhecidos os efeitos redutores da fadiga muscular, do café.
Como possíveis "malefícios" associados ao café, mais concretamente ao consumo de doses diárias elevadas de cafeína [substância que se encontra em muitos alimentos, principalmente: no café, nalguns chás (nomeadamente o preto, o branco e o verde), no cacau, no guaraná, na Coca-Cola (e similares) e na maioria das “bebidas energéticas”] está a dependência desta, que se pode manifestar, na sua ausência, por sonolência, dificuldade de concentração e dores de cabeça. Em pessoas não habituadas ao consumo de cafeína, a sua ingestão pode provocar, ou aumentar, a intensidade e/ou a frequência de arritmias, bem como uma elevação da pressão arterial (vulgo “tensão”), sintomas que desaparecem ao fim de alguns dias de toma. É totalmente contra-indicado o consumo de café e de outras bebidas fortemente ácidas a doentes com úlceras de estômago. É aconselhada a redução ou suspensão do consumo de café durante a gravidez e o aleitamento pois doses de cafeína relativamente baixas (e portanto benéficas) para o adulto podem ser bastante altas (e portanto prejudiciais) para os bebés. Também nas crianças, o consumo de cafeína deve ser muito comedido.
Não há qualquer estudo científico credível que aponte o café como causa ou agravamento de qualquer patologia cardiovascular.
Em jeito de conclusão, podemos dizer que, pesando os prós e os contras, o café (bebido com moderação), contrariamente ao que muita gente pensa, é uma bebida recomendável à generalidade da população adulta.
Referências: N.º 0 de “O Quebra Mitos”, boletim de notícias da ARSLVT, da autoria do Professor Doutor António Vaz Carneiro, Director do Centro de Estudos de Medicina Baseada na Evidência, da FMUL; Entrevista do Farmacêutico e Professor Universitário, Mestre António Hipólito de Aguiar, ao boletim “Café e Saúde”; Entrevista do Professor Doutor João Gorjão Clara, Chefe de Serviço de Medicina Interna e Consultor de Cardiologia do Hospital Polido Valente; Artigo da Harvard Medical School.