“Dosis sola facit venenum.” Paracelsus, 1538

segunda-feira, 30 de maio de 2011

O uso intensivo de telemóveis provoca cancro no cérebro?

Dada a (previsível) extensão do texto opto por satisfazer, desde já, a curiosidade dos leitores. A resposta à questão colocada no título é, não!
Um estudo levado a cabo nos Estados Unidos, em 2001 (publicado no New England Journal of Medicine) comparou 782 doentes com cancro cerebral, internados em hospitais dos EUA, com 799 doentes, também internados em hospitais norte-americanos, mas com outras doenças. Concluiu que não havia qualquer relação entre a utilização de telemóveis, durante pelo menos uma hora por dia, e o cancro cerebral. Em 2006 foi publicado (no Journal of the National Cancer Institute) um estudo dinamarquês que seguiu durante 13 anos, um grupo de mais de 420 mil pessoas que usavam telemóveis. Este estudo concluiu que não existe qualquer relação entre o uso de telemóveis e o cancro cerebral, quer em doentes com utilizações intensivas quer ocasionais.
Estes estudos, levados a cabo por especialistas em medicina são, do ponto de vista das ciências mais exactas (a Física e a Química) perfeitamente desnecessários. Conhecimentos adquiridos por alunos do 10.º e 11.º na disciplina de Física e Química A, permitem-lhes saber que as ondas electromagnéticas (vulgo radiação) emitidas pelos telemóveis não conseguem penetrar os ossos do crânio, sendo-lhes portanto impossível causar qualquer espécie de dano a qualquer célula contida no seu interior. Expliquemos (ou relembremos) um pouco mais em pormenor.

A frequência das ondas electromagnéticas emitidas pelos telemóveis varia, conforme as redes, entre os 0,85 GHz (oitocentos e cinquenta milhões de pulsos por segundo) e os 2,1 GHz (dois mil e cem milhões de pulsos por segundo). No espectro electromagnético, estas radiações situam-se entre as ondas de rádio (frequências inferiores a 1 GHz) e as microondas (frequências maiores que 1 GHz e menores que 300 GHz). Quando uma qualquer radiação encontra matéria no seu caminho de propagação, três coisas lhe acontecem, no entanto, conforme a frequência da radiação e a matéria que se opõe, normalmente apenas uma delas tem relevância mensurável: ser reflectida (a radiação embate nas partículas da matéria e não consegue penetrá-la, é o que acontece à luz visível quando se depara com uma parede de betão); transmitir-se (a radiação atravessa a matéria e segue o seu caminho, com um certo desvio na sua direcção, é o que acontece à luz visível quando atravessa um vidro transparente); ser absorvida (a radiação consegue penetrar parcialmente na matéria mas não a atravessa completamente pois é absorvida, é o que acontece à luz visível quando tenta penetrar nas profundezas do oceano, a água vai-a absorvendo aos poucos e se quando mergulhamos junto à superfície vemos o que nos rodeia, alguns metros mais abaixo deparamo-nos com a escuridão total).
As radiações de maior frequência, por serem constituídas por fotões mais energéticos e com menor comprimento de onda têm maior poder penetrante (é exemplo (extremo) disto a radiação gama). As de menor frequência, devido à pouca energia dos seus fotões e ao grande comprimento de onda que apresentam, reflectem-se quase na totalidade (são exemplo disto as ondas de rádio). A frequência das radiações usadas nos telemóveis, nas emissões de rádio e de televisão, ou nas comunicações por GPS, é relativamente baixa (consequentemente, estas radiações possuem um comprimento de onda relativamente grande) apresentando, portanto, muito fraco poder de penetração.
Quando uma radiação é absorvida pela matéria provoca nela um de três efeitos: aquecimento (também conhecido por efeito térmico - a energia absorvida provoca um aumento das vibrações das moléculas das substâncias); ionização (a energia absorvida remove um ou mais electrões de alguns átomos); reacção química (a energia absorvida quebra uma ou mais ligações entre os átomos, nas moléculas. Ora, a frequência mínima que uma radiação deve possuir para provocar a quebra da mais fraca das ligações químicas (intramoleculares) é de 387 GHz. A frequência mínima que uma radiação deve apresentar para arrancar um electrão (o que carece de menor energia) é de 942 GHz. Portanto, radiações com a frequência das usadas em comunicações (relembro que os telemóveis emitem radiação cuja frequência não ultrapassa 2,1 GHz) só podem causar efeito térmico. O funcionamento dos fornos de microondas é baseado neste efeito. Claro que se colocarmos um pedaço de carne dentro de um forno de microondas este vai aquecendo e atingindo uma temperatura de tal forma elevada que ocorrem reacções químicas nela (as reacções químicas também ocorrem por acção do calor) mas, um forno de microondas tem uma potência (normalmente) não inferior a 800 Watt, enquanto a potência de um telemóvel (usada para comunicar) é inferior a 2 Watt (nos de segunda geração e de cerca de 1 Watt nos 3G). É fácil verificarmos que, mesmo após uma conversa de vários minutos, a pele da orelha onde encostámos o telemóvel não sofreu um aquecimento significativo (uma investigação laboratorial refere um aumento inferior a 0,1 ºC, na temperatura exterior da pele após 15 minutos de conversação).
Em jeito de conclusão rápida sublinho que a radiação emitida pelos telemóveis ou pelos receptores de GPS não só não provoca cancro cerebral (para atravessar os ossos do crânio são necessárias radiações X, de muito alta frequência ou radiações gama) como não provoca sequer qualquer dano à pele, pois não dispõe de energia suficiente para provocar qualquer reacção química, menos ainda qualquer efeito ionizante. Acrescento, a propósito, que os alimentos cozinhados ou aquecidos em fornos de microondas, que usam radiação com a frequência de 2,45 GHz (pelas mesmas razões) não representam qualquer risco para a saúde.
Referências: Os estudos que menciono (no 2.º e 3.º parágrafo do texto) são citados no n.º 2 de “O Quebra Mitos”, boletim de notícias da ARSLVT, da autoria do Professor Doutor António Vaz Carneiro e num Artigo da Harvard Medical School.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Obesidade

Cada vez mais nos meios de Comunicação Social se fala neste tema que afecta todas as gerações e estratos sociais. Assim neste post será abordada esta temática tentando explicar diferentes aspectos da mesma.
De acordo com a OMS, a obesidade é uma doença em que o excesso de gordura corporal acumulada pode atingir graus capazes de afectar a saúde. a Organização Mundial de Saúde (OMS) considerou esta doença como a epidemia global do século XXI.
É uma doença crónica, com enorme prevalência nos países desenvolvidos, atinge homens e mulheres de todas as etnias e de todas as idades, reduz a qualidade de vida e tem elevadas taxas de morbilidade e mortalidade.
A obesidade acarreta múltiplas consequências graves para a saúde.
Quais são os tipos de obesidade?
· Obesidade andróide, abdominal ou visceral - quando o tecido adiposo se acumula na metade superior do corpo, sobretudo no abdómen. É típica do homem obeso. · Obesidade do tipo ginóide - quando a gordura se distribui, principalmente, na metade inferior do corpo, particularmente na região glútea e coxas. É típica da mulher obesa.
Como se determina ou diagnostica a obesidade e a pré-obesidade?
A obesidade e a pré-obesidade são avaliadas pelo Índice de Massa Corporal (IMC). Este índice mede a corpulência, que se determina dividindo o peso (quilogramas) pela altura (metros), elevada ao quadrado.
Segundo a Organização Mundial de Saúde, considera-se que há excesso de peso quando o IMC é igual ou superior a 25 e que há obesidade quando o IMC é igual ou superior a 30. O diagnóstico de excesso de peso e de obesidade em função do IMC em crianças e adolescentes não é aplicável com as regras do adulto, devido às características dinâmicas dos processos de crescimento e de maturação que ocorrem durante a idade pediátrica.
O que causa a obesidade?
O excesso de gordura resulta de sucessivos balanços energéticos positivos, em que a quantidade de energia ingerida é superior à quantidade de energia dispendida. Os factores que determinam este desequilíbrio são complexos e podem ter origem genética, metabólica, ambiental e comportamental.
Factores de risco
- Vida sedentária;
- Zona de residência urbana;
- Grau de informação dos pais;
- Factores genéticos;
- Gravidez e menopausa.

Que sistemas do nosso organismo são afectados?

- Aparelho cardiovascular;

- Sistema metabólico;

- Sistema pulmonar;

- Aparelho gastrintestinal;

- Aparelho genito-urinário e reprodutor.

http://www.min-saude.pt/portal/

terça-feira, 24 de maio de 2011

Qual é a quantidade de água que devemos beber diariamente?

A resposta a esta pergunta pode parecer complexa, na verdade não o é. Mais de 60% da nossa massa corporal é água, tendo esta uma enorme importância para nós, aliás, tal como acontece com os demais seres vivos. Um estudo dos anos 30 (do século passado, obviamente) sugeria que o ser humano deve ingerir um mililitro de água por cada quilocaloria de energia contida nos alimentos que consome. Acontece que, o número de quilocalorias ingeridos diariamente varia muito de pessoa para pessoa e para a mesma, varia de dia para dia, além disso, o nosso organismo perde água (por ordem decrescente de quantidade) na urina, na respiração, na transpiração e nas fezes. A quantidade de cada uma destas perdas é também muito variável, consoante os alimentos ingeridos, o tipo e intensidade das nossas actividades, a temperatura e humidade do ar em nosso redor, etc.

Numa consulta rápida na Internet em busca de resposta para esta pergunta, conforme os sítios (e eliminando as respostas mais excêntricas), obtemos respostas que vão desde a necessidade de ingerimos cerca de 1,5 litros de água por dia até aos 3 litros. Algumas páginas recomendam-nos que tenhamos em conta a totalidade de água contida nos alimentos, mas esta não se apresenta uma tarefa fácil, pois a quantidade de água presente nos alimentos é muito variável, quando comparada com a massa destes; desde quase zero, numa margarina ou óleo vegetal até aos mais de 96% no pepino, 95% na alface, 94% no tomate e no agrião, passando pelos 87% nos citrinos e nos pêssegos, pelos cerca de 50% na carne de vaca, ou pelos 12% nas farinhas ou no arroz (crú).

Parece que a obtenção da resposta correcta à questão colocada no título nos vai envolver em cálculos complexos, afectados por significativa incerteza, no entanto, como escrevi logo na primeira linha deste texto, a resposta não é complexa. Quer na Internet, quer através de familiares e amigos, que por vezes citam os seus médicos, é habitual ouvirmos dizer que devemos ingerir, além da água contida nos alimentos, pelo menos mais dois litros diários, mas a resposta correcta à questão não é assim tão exacta. A ideia de que precisamos de beber pelo menos dois litros de água por dia é apenas mais um dos muitos mitos que circulam.

A água é uma das substâncias que são estritamente reguladas pelo nosso organismo e o seu metabolismo é simples, o organismo só aproveita aquela de que necessitamos. A quantidade de água no organismo é regulada por hormonas que garantem a manutenção de uma determinada densidade do sangue normal. Quando desidratamos esta densidade aumenta e o organismo perde temporariamente menos água, somos então, “de imediato”, acometidos pela sensação de sede, sendo este um alerta para a necessidade de ingerirmos líquidos nos minutos seguintes. Quando estamos bem hidratados não temos sede, o que significa que o organismo não necessita que ingeramos mais líquidos. Se o fizermos, urinamos mais, pois são os rins que controlam a quantidade de água que deve existir no organismo, através do aumento ou diminuição do volume de urina, e se estiverem a funcionar normalmente dispensam qualquer ajuda externa.

Forçar a ingestão de líquidos quando deles não necessitamos é, no mínimo, inútil e em certos casos perigoso, pois a partir de certo volume de água ingerida, os rins podem ter dificuldades em eliminar a supérflua, diminuindo a osmolalidade (número de moles de soluto por quilograma de solvente transferido por osmose) do sangue, ou mais correctamente, do plasma, o que pode ter consequências bastante graves (convém não esquecer que, tal como já escrevi aqui, o veneno não está na substância mas sim na dose e, mesmo substâncias aparentemente inócuas, como a água, quando ingeridas em quantidade excessivas são prejudiciais à saúde), devido à diminuição da concentração de certos sais.

Que quantidade de água se deve beber, então? A resposta é muito simples: devemos beber toda a água (ou outra bebida sem álcool) que nos apetecer, sempre que tivermos sede, até que esse “problema” esteja resolvido, nem mais, nem menos.

Referência: Artigo da Harvard Medical School.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Um belo tom bronzeado

O Verão está a chegar, mas como já está calor nada melhor que adquirir um tom bronzeado que dá estilo. Nada melhor que chegar às aulas na segunda-feira e mostrar o bronze adquirido no fim-de-semana. E que trabalheira isso provoca! Estar todo o dia na praia principalmente às horas de maior calor e talvez apanhar grandes escaldões na pele. A pele é o nosso maior órgão porque cobre todo o nosso corpo e tem memória, ou seja qualquer lesão que ela sofra vai ficar registado e pode vir a ter consequências mais tarde nomeadamente cancro da pele. O corpo humano possui dois mecanismos naturais e eficazes contra as agressões solares, mas precisa de tempo para os pôr a funcionar em pleno. Por um lado, o organismo reage produzindo melanina, um pigmento que funciona como um “chapéu” que protege o núcleo das células e tem a capacidade de absorver as radiações ultravioletas emitidas pelo sol. É da acção da melanina que resulta a cor bronzeada. Para além disso, o contacto gradual com a luz solar produz um espessamento da pele, tornando-a mais resistente. No entanto, devemos proteger a nossa pele dos malefícios do sol e uma das formas de o fazer é através da utilização dos protectores solares. Os protectores são produtos que apresentam um Factor de Protecção Solar (SPF, na sigla inglesa) associado. O SPF é classificado numa escala que vai de “6” a “50”. Estes valores traduzem a capacidade do produto em proteger dos raios UVB. Relativamente aos UVA, é indicado na embalagem se confere ou não protecção. Existem dois tipos principais de protector solar, em função do modo como exercem essa protecção: - Químicos – Absorvem e convertem a radiação em calor, são cosmeticamente mais agradáveis mas podem desencadear reacções alérgicas em indivíduos susceptíveis. - Físicos ou minerais – Reflectem a radiação, não sendo absorvidos pela pele; são cosmeticamente menos agradáveis mas não geram sensibilidade cutânea. Especialmente indicados em crianças e peles intolerantes. Na escolha do protector a usar devem ser tidos em conta os seguintes aspectos: a idade do utilizador, o tipo de pele, o índice ultravioleta, a resistência à água e a protecção contra os UVB e os UVA. Conhecer o tipo de pele (fototipo) e a reacção à radiação solar é fundamental para encontrar o SPF adequado. São seis os fototipos existentes: I – Cabelos ruivos, sardas, olhos verdes ou azuis – pele muito sensível, queima-se facilmente e raramente se bronzeia; II – Tez, cabelos e olhos claros – pele sensível, queima-se com facilidade e bronzeia-se minimamente; III – Cabelo e olhos castanhos – pele com alguma sensibilidade, queima-se por vezes e adquire um bronzeado discreto; IV – Tez morena, cabelos e olhos escuros – bronzeia-se com facilidade e raramente se queima; V – Pele, cabelos e olhos muito escuros – insensível ao sol, bronzeia-se facilmente e raramente se queima; VI – Pele, cabelos e olhos negros – insensível ao sol, é muito pigmentada e nunca se queima.
Estando protegidos e atendendo às horas a que estamos expostos, podemos usufruir da praia! Provavelmente não estaremos tão bronzeados mas para além do perigo já referido não teremos uma pele envelhecida precocemente.

O que é o HPV?

HPV é a sigla de Human Papillomavirus ou, em Português, Vírus do Papiloma Humano. A infecção por HPV (Papilomavirus Humano ou virus do papiloma humano) é uma das doenças sexualmente transmissíveis mais comuns nos adolescentes e adultos jovens com prevalências que podem atingir os 50%. A infecção por HPV é frequente nos jovens sexualmente activos de ambos os sexos e de todas as etnias em particular nas idades entre os 16 até aos 25 anos de idade. Este vírus foi já encontrado em locais como: olhos, boca, faringe, vias respiratórias, ânus, recto e uretra. Idade precoce da primeira relação sexual e a existência de múltiplos parceiros são factores de risco bem aceites. Hábitos tabágicos, uso de contraceptivos orais, presença de doenças venéreas, algumas deficiências nutricionais e raça/etnia, têm também sido descritos como factores de risco para o cancro do colo uterino. A prevenção da doença pode ser feita através da vacinação. Por essa razão, em 27 de Outubro de 2008 a vacina contra as infecções por vírus do papiloma humano (vacina HPV) entrou no Programa Nacional de Vacinação e é efectuada gratuitamente iniciando-se com as nascidas em 1995.A vacinação universal de rotina com a vacina HPV tem como objectivo a prevenção de infecções por vírus do papiloma humano (lesões genitais pré-cancerosas, cancro do colo do útero e verrugas genitais externas) e a diminuição, a longo prazo, da incidência do cancro do colo do útero. Referências: http://www.arscentro.min-saude.pt/SaudePublica/Material/Paginas/VacinaHPV.aspx http://www.sppv.org/hpv.html

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Embaixadores da Saúde (4)

Na passada quarta-feira (11 de Maio) realizou-se mais uma reunião entre a Equipa de Saúde Escolar e os Embaixadores da Saúde da nossa escola.
Na fase inicial, a Dr.ª Anabela Falcão falou do encontro entre Embaixadores da Saúde de várias escolas do concelho de Almada, que se irá realizar no início de Junho, em data ainda a confirmar, tendo sido acertados alguns pormenores sobre a forma como a nossa escola se fará representar nesse encontro.

O tema de saúde pública escolhido para dominar a segunda parte da intervenção da médica, pertinente face à aproximação do Verão e das férias, foi a excessiva exposição à radiação solar e os perigos daí resultantes. Da intervenção, merece destaque a constatação que, uma vez que a máxima potência solar (medida no solo) por metro quadrado de superfície corresponde também à máxima recepção, pelo planeta, de radiação ultravioleta, e que isso acontece nas horas em que (devido ao movimento de rotação da Terra) a altura aparente da estrela é maior (horas próximas do meio-dia solar), devemos evitar expor-nos ao Sol nas horas em que a nossa sombra, no chão, é menor que a nossa altura.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

O café faz mal à saúde?

O café é uma bebida que se obtém fazendo passar água quente por sementes secas, torradas e moídas (processo que em Química se designa por “separação por solvente” ou “extracção”), a maioria das quais, de uma planta que se pensa ser originária da Abissínia e que foi posteriormente cultivada em todas as regiões tropicais, denominada cafeeiro. Trata-se de um arbusto de folhas persistentes que produz uns pequenos frutos carnudos, de cor roxa, púrpura ou amarela (conforme as espécies), contendo cada um deles duas sementes, envoltas (cada uma delas) numa casca semi-rígida, transparente, que protege o grão (verde) de café.
A bebida começou a ser consumida no mundo Árabe, por volta no século XII, tendo-se popularizado no Egipto e na Pérsia já em meados do século XV. Logo no início do Século XVI foi proibida em alguns países (por alegadamente ser prejudicial à saúde) tendo tal proibição levado a algumas revoltas populares. Foi nessa época que, primeiro, os Italianos e depois os portugueses, os espanhóis e os holandeses, a difundiram pela Europa e pelo mundo. Hoje, partilha com o chá, o título de bebida mais disseminada no mundo.
Actualmente o Brasil produz mais de um terço dos quase oito milhões de toneladas de café que se consomem no mundo. Os países nórdicos são os maiores consumidores per capita, sendo a Finlândia o maior consumidor mundial com cerca de 12 kg por ano, por pessoa, seguem-se: a Noruega, com 10 kg; a Islândia e a Dinamarca, com 9 kg. Apesar de o café se poder beber gelado (ou simplesmente frio, tal como o chá), os países mais quentes são mais modestos no consumo, por exemplo, cada brasileiro consome cerca de 5,5 kg de café por ano, e cada português cerca de 3,9 kg.
O café é uma mistura complexa de mais de mil substâncias químicas diferentes (nas quais se incluem: hidratos de carbono, proteínas, lípidos, sais minerais, vitaminas, outros compostos nitrogenados (além das proteínas), ácidos clorogénicos, alcalóides e polifenóis), com as mais variadas propriedades e todas (com excepção da água, que representa 99,4% da bebida) em quantidades muito pequenas. A mais abundante dessas substâncias é a cafeína. Uma chávena de café (conforme a dimensão da mesma, o tipo de café e o modo de preparação) contém entre 60 e 150 mg de cafeína, sendo habitualmente considerado o valor médio de 100 mg por cada “bica”.
A ideia de que o café é prejudicial à saúde é um dos mitos mais difundidos na nossa sociedade (mesmo entre a classe médica). De facto, durante várias décadas, o balanço entre os malefícios e os benefícios (principalmente) da cafeína foram alvo de disputa na comunidade científica. Hoje, sabemos (tal como já tinha referido Paracelsus há quase quinhentos anos) que o “veneno não está na substância, está na dose”, isto é, qualquer substância pode ser benéfica ou maléfica consoante a quantidade (e a frequência com que) ingerimos. Múltiplos estudos, dos quais resultaram mais de 30 mil publicações em revistas científicas, permitem-nos concluir que o consumo de 3 a 6 chávenas de café por dia é benéfico na prevenção: da Diabetes (principalmente a de tipo 2); da doença de Parkinson; da doença de Alzheimer; e de doenças do fígado, como o carcinoma hepatocelular (vulgo cancro do fígado), a cirrose alcoólica e a fibrose. Associados ao consumo do café, dada a sua acção estimulante do Sistema Nervoso Central, estão também: o aumento da atenção, da concentração e da rapidez de reflexos, e a redução da tendência depressiva causada pelo consumo de opiáceos, nicotina ou álcool. São também reconhecidos os efeitos redutores da fadiga muscular, do café.
Como possíveis "malefícios" associados ao café, mais concretamente ao consumo de doses diárias elevadas de cafeína [substância que se encontra em muitos alimentos, principalmente: no café, nalguns chás (nomeadamente o preto, o branco e o verde), no cacau, no guaraná, na Coca-Cola (e similares) e na maioria das “bebidas energéticas”] está a dependência desta, que se pode manifestar, na sua ausência, por sonolência, dificuldade de concentração e dores de cabeça. Em pessoas não habituadas ao consumo de cafeína, a sua ingestão pode provocar, ou aumentar, a intensidade e/ou a frequência de arritmias, bem como uma elevação da pressão arterial (vulgo “tensão”), sintomas que desaparecem ao fim de alguns dias de toma. É totalmente contra-indicado o consumo de café e de outras bebidas fortemente ácidas a doentes com úlceras de estômago. É aconselhada a redução ou suspensão do consumo de café durante a gravidez e o aleitamento pois doses de cafeína relativamente baixas (e portanto benéficas) para o adulto podem ser bastante altas (e portanto prejudiciais) para os bebés. Também nas crianças, o consumo de cafeína deve ser muito comedido.
Não há qualquer estudo científico credível que aponte o café como causa ou agravamento de qualquer patologia cardiovascular.
Em jeito de conclusão, podemos dizer que, pesando os prós e os contras, o café (bebido com moderação), contrariamente ao que muita gente pensa, é uma bebida recomendável à generalidade da população adulta.
Referências: N.º 0 de “O Quebra Mitos”, boletim de notícias da ARSLVT, da autoria do Professor Doutor António Vaz Carneiro, Director do Centro de Estudos de Medicina Baseada na Evidência, da FMUL; Entrevista do Farmacêutico e Professor Universitário, Mestre António Hipólito de Aguiar, ao boletim “Café e Saúde”; Entrevista do Professor Doutor João Gorjão Clara, Chefe de Serviço de Medicina Interna e Consultor de Cardiologia do Hospital Polido Valente; Artigo da Harvard Medical School.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Iogurtes há muitos, seus palermas

A Danone foi apanhada no “velho truque” da publicidade enganosa. A Federal Trade Commission (FTC), autoridade reguladora norte-americana para a protecção dos consumidores, afirma que não existe evidência científica de que o iogurte Activia contribua para regular o trânsito intestinal, contrariamente ao que a Danone publicita. A polémica arrastou-se durante algum tempo mas não foi necessário recorrer ao tribunal para resolver a contenda, dado que as partes chegaram a um acordo. A Danone assumiu o compromisso de pagar 21 milhões de dólares, a distribuir por 39 Estados norte-americanos (aqueles onde o anúncio ao produto alegava benefícios à regulação do trânsito intestinal) e de alterar a publicidade ao produto (falando agora de melhoria do conforto intestinal e da sensação de barriga inchada). Um responsável pelas relações públicas da companhia aproveitou, no entanto, para afirmar que “milhões de pessoas acreditam firmemente no benefício de usufruir do produto", insistindo que "a Danone vai continuar a investigar, educar e divulgar as vantagens no consumo de ‘probióticos’ para os sistemas digestivo e imunológico.”
Ficamos esclarecidos. Os propagandeados benefícios do Activia, na regulação do trânsito intestinal, só se fazem sentir se neles acreditarmos firmemente, são como o alegado “aquecimento global antropogénico”, questões de fé, não de ciência.